Era manhã ainda, e nas ruas o sol
esse ainda não brilhava, quando numa confissão aberta, aqueles pequenos seres, pelo
brilho jovial dos seus olhares, faziam já brilhar no refeitório uma luz imensa
e pulcra de uma alegria contagiante.
Escutavam-se expressões variadas,
mas em todas era clara à satisfação pelo poder ir aquele lugar místico, que
muitos pelo seu estado e idade, pensavam não puder já ir.
Entre todos havia ainda alguém que
num jeito simples e poético acabará por dizer: “vou lá ver aquilo, nunca lá
fui. Ouvi dizer que é bonito…”, é bonito sim, mas muito mais bonito e belo é construir
um novo dia, cheio de brilho e cor, nestes “velhos” que julgam já não puder
viver mais para além que o esperar pacificamente o derradeiro dia. Pela mão de
uma instituição que hoje completa o seu agregado familiar, que está muito mais
além do que aquilo que vulgarmente pensamos, que dia e noite pela entrega de
tantos homens e mulheres mantém cuidados estes “tesouros” preciosos da nossa
sociedade.
Fátima, altar do mundo, foi o
nosso destino. Sonho de muitos por concretizar, a Santa Casa da Misericórdia de
Alcáçovas não só idealizou, mas antes quis e colocou em prática este sonho de muitos,
rumarem ao altar do mundo, junto de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Muitos
carregam em si o peso de uma vida dorida, uma vida de luta e muito esforço, que
hoje os impede de caminhar, de manter a sua autonomia, mas não os impede de
irem. Por isso foi colocado ao serviço uma vasta equipa de profissionais e
colaboradores que acompanharam estas “joias” à peregrinar. Pelo caminho houve
tempo para rezar, invocar de Deus a bênção e protecção, para rir, cantar e
escutar as muitas histórias que cada uma destas já longas vidas têm para
contar.
À chegada ao Santuário, o altar
foi a mesa de encontro na santa Eucaristia. Envolvidos pela grandiosidade da Basílica
da Santíssima Trindade, os olhares perdiam-se como que numa caçada em que o
caçador procura veloz não perder de vista a sua presa. Cada um admirava à sua
maneira, sorria, chorava expressava a sua forma à gratidão a Deus por poder
estar ali.
“nunca pensei nisto assim! Achava
que fosse uma capelinha, com montado em volta como o nosso convento, mas isto é
grande;… perdi a vida na fazenda, nunca vi nada, agora estou velho e sem forças
já nada posso ver!”, de entres as muitas palavras que pude escutar naquele
momento estas em particular guardo no meu coração, talvez pela forma simples e
humilde com que deixam transparecer a simplicidade do homem perante a omnipotência
de Deus.
Repleto de grande emoção foi também
o momento em que se abeiraram da capelinha das aparições, junto da Imagem da
Virgem do Rosário de Fátima, ali num silencio profundo que deixaram aos poucos
cair pelo chão, cada um no seu intimo procurou dialogar com a Virgem Mãe.
Questionando alguém do grupo de qual era o sentimento por estar ali tão perto
da Imagem, junto ao local onde a Virgem apareceu, aquela voz doce acabou por me
dizer: “hoje somente já peço uma boa morte para mim e longa vida para os meus…”
que emocionante é escutar aquelas palavras de alguém que está a dias de
completar um seculo de vida, que lhe dizer? Que palavras interpor a este
pensamento de fim de vida? Como é pequeno o meu ser onde a minha vida nem um
quarto da sua completa!
Um pouco já cansados pela
caminhada no santuário foi tempo de procurarmos descansar e almoçar num espaço
bem ali do lado, onde já nos esperavam com um verdadeiro manjar de príncipes,
bem à altura destas “joias”.
“Luz e Paz” um espaço museológico
do Santuário de Fátima onde estão patentes algumas das ofertas e peças de
joalharias oferecidas a Nossa Senhora, foi o local escolhido para visitar
durante o período da tarde. Na visita mais uma vez nos rostos era possível descerrar
o júbilo por puderem estar ali, por puderem como alguém dizia “morrer vendo
ainda um pouco do mundo”.
O cansaço era notório no
regresso, já não há mais juvenilidade nem fulgor de outros tempos, mas antes
uma degustação única por tudo o que a vida ainda lhes tem para oferecer!
A instituição, a cada um daqueles
corações que todos os dias para além de voluntários, profissionais,
colaboradores, mesários ou provedor, se entregam como seres humildes procurando
fomentar o bem-estar de cada um daqueles que pela velhice ou doença a si estão confiados;
todos estão de parabéns, não só por este dia, mas por todos os que em gestos
simples pintam e dão cor a vida de cada uma destas joias…
Como foi bom puder participar
neste júbilo! Puder acompanhar esta experiencia magnifica, dar vida, a quem
julga que somente já a pode perder!
(Por aquela peregrinação em que pude participar... e onde o meu coração gritou de júbilo!
a Santa Casa da Misericórdia de Alcáçovas o muito obrigado por puder fazer parte desta equipa de voluntários que tenta em gestos simples dar cor a vida de cada uma destas "Joias".)
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