Vivemos um tempo
de asfixia contrabandeada! Numa asfixia onde somos contrabandistas do tempo!
O tempo hoje é
de modo geral sinonimo de asfixia, o hoje não tem tempo, e o tempo esse vive
asfixiado pelo hoje!
E em toda esta
asfixia de tempo e de hoje nós somos contrabandistas! Contrabandistas porque
vivemos galopantes no tempo, no hoje, vivemos que é como quem diz! No fim de contas
não sei, não saberemos mais se isto afinal é viver!
Hoje tudo se asfixia! Se de manhã escutamos o relógio
tocar, logo se nos asfixia a mente pela afirmação impetuosa de um recomeçar
iminente e emergente de um novo dia. E logo ai iniciamos a nossa carreira de
contrabandistas desse dia!
A turbina se agita!
Logo depois corremos fervorosos e asfixiados pelo tempo, em gestos já banais e
corriqueiros que nem sequer ousamos questionar o seu porque, nem ao menos
porque assim acontece. Ao trabalho chegamos invariavelmente tarde, apressados,
cansados, com um sentimento já de asfixia por aquilo que nos espera! E assim,
em pequenos ou grandes gestos dos quais não nos damos conta, acabamos por asfixiar
todos quantos se cruzam pelo nosso caminho durante este hoje. Um hoje que se de
tempo asfixiado se iniciou, de tempo asfixiado se vivera!
Um hoje no qual
nós contrabandistas desse tempo, procuramos a sabedoria emergente do saber
desdobrar esse tempo em duas, ou muitas mais vezes, tantas quanta a asfixia que
temos em nós e não cabe nesse tempo que temos para contrabandear!
Eis que se não, após todo esse tempo de já longa
asfixia laboral, onde contrabandistas fomos desse mesmo tempo, esse que não
soubemos aproveitar, frutificar e dele edificar, esse mesmo tempo onde por
vezes nem oportunidade demos para sentar a mesa e ai sem asfixia alimentarmos
este corpo de contrabandistas, eis que este chega à mais um fim de um hoje. Um
hoje que foi igual, ou tão idêntico a um ontem. Um hoje onde como ontem não nos
disponibilizamos a deixar de contrabandear esta asfixia do tempo!
Um hoje, onde
apesar de toda a asfixia que sentimos como ninguém, não ousamos sequer
questionar, quanto menos tomar o propósito de mudança.
Mas certeza apenas nos fica, a certeza de que ao
voltar a reclinar a cabeça no fim deste dia, tomaremos sobre nós o peso desta
asfixia, do qual o nosso corpo é contrabandista do tempo! Este tempo que por
mais que asfixie este corpo, já mais este corpo conseguirá contrabandear o
tempo! O tempo esse, que para um hoje conta apenas com um hoje!
Um tempo onde
nós teremos ainda que aprender a viver sem estarmos asfixiados, um tempo onde
teremos ainda que aprender a deixarmos de contrabandear esse tempo. Porque o
tempo é esse que conhecemos, por muita ou pouca asfixia que tenhamos. A
diferença esta somente na forma como estamos nós dispostos a vive-lo,
asfixiados contrabandeando ou simplesmente vivendo a liberdade do tempo!
E isso apenas nos
cabe a nós!
Telmo Ferreirinho Seco
Alcáçovas, 2 de Fevereiro de 2017
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